Conheci Paulo Dubois quando de minha primeira ida a Porto Príncipe, em 1998. Naquela altura, seu escritório ficava na livraria Pleiade de Bel Air, no centro da capital. Em 2004, e como conseqüência da violência que tomara conta da região, a Pleiade de Bel Air se transferiu para outro bairro central da cidade, um pouco mais longe dos tiroteios que enfrentavam os chimères àqueles que se opunham ao governo de Aristide.
Logo encontrei em Paulo um bom amigo, e sempre que ia a Porto Príncipe passava horas na livraria Pleiade, atualizando minha biblioteca haitiana, conversando sobre a atualidade do país e respondendo suas questões sobre o Brasil. Sim, Paulo sempre foi um entusiasta do Brasil e da música brasileira. Em 1998, Paulo tinha um programa de rádio, na rádio Haiti, dedicado à música brasileira. Neste programa, Paulo me entrevistou, com muitas perguntas sobre MPB, sobre o Brasil… E não era só eu que, do alto da minha ignorância, respondia suas insistentes perguntas sobre MPB (eu, que não entendo nada de MPB!), mas sobretudo Paulo que me introduzia nos mistérios de um dos patrimônios musicais mais sofisticado das Américas, a música haitiana.
Foi Paulo quem me apresentou Jean Dominique, seu grande amigo e mentor. Seu assassinato, em abril de 2000, foi um duro golpe para Paulo Dubois, que interrompeu seu programa de rádio para não voltar a retomá-lo. Quando estive em Porto Príncipe em maio de 2000, encontrei um Paulo triste e deprimido. Recuperar-se da perda do amigo demoraria anos, e até hoje a evocação a Jean Dominique é constante.
Nos anos seguintes, sempre que retornava a Porto Príncipe, a ida à Pleiade era uma das primeiras visitas obrigatórias. Sempre que chegava, era recebido com doçura por Paulo e Solange, como um velho amigo. Em mais de uma ocasião saímos para conversar, dançar e tomar um bom rum barbankourt – no Press Café, no Oloffson. Todos os amigos brasileiros que comigo chegaram a Porto Príncipe transformaram a Pleiade num ponto obrigatório. A nova Pleiade, ainda próxima ao centro, possuía também um pequeno café ao lado, transformado em ponto de encontro. E no segundo andar uma pequena papelaria e preciosas estantes de música haitiana. Havia acabado de realizar uma bela compra de cds de música haitiana minutos antes do primeiro grande terremoto. A Pleiade tinha acabado de fechar, Paulo, Solange e os funcionários haviam acabado de sair, quando o terremoto nos surpreendeu diante da livraria, parte da qual veio abaixo.
Dois dias após o terremoto, passei pelo que restara da Pleiade, e lá encontrei Paulo e Solange. Haviam conseguido reunir boa parte dos livros e cds, e levá-los para a Pleiade de Pétionville, pouco afetada pelo sismo. Estavam sentados ao lado das ruínas, e me abraçaram com carinho. Quando voltar, ali onde estiver, irei à nova Pleiade que, com toda a certeza, Paulo vai reerguer em Porto Príncipe.
Omar Ribeiro Thomaz