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Sobre zumbis

7 de janeiro de 2010

Entre as muitas representações recorrentes sobre o Haiti, o vodu certamente se destaca. Quando dizemos que vamos viajar a este país, não sou poucos os que, jocosamente, nos perguntam se podemos trazer os famosos bonequinhos, aqueles que abrem as portas de vinganças sinistras. Outros, de forma não menos jocosa, nos falam dos zumbis, imortalizados pelo cinema norte-americano. O Haiti surge, entre outras coisas, associado a um universo de crenças e práticas mágicas que, concomitantemente, parecem atrair e provocar temor. O que é evidente é que a atração e o temor se combinam com a clara percepção de que se trata da crença dos outros.

Poucos dias no Haiti são suficientes para percebermos que, da mesma forma que a história da revolução e dos países fundadores, que as representações sobre a nação e que o lugar da língua crioula, as crenças e práticas associadas ao vodu perpassam a totalidade da sociedade haitiana, interpelam a própria percepção do tempo e do espaço nacionais e, sobretudo, nos revelam tensões entre os distintos grupos sociais haitianos.

Os zumbis nos levam a um mundo que não se restringe às práticas religiosas. Quando inquiridos sobre os zumbis, nossos interlocutores não têm nenhum problema em afirmar o seu medo e seus contatos prévios com os zumbis. Mas, quem são? Como reconhecê-los?

Os zumbis estão associados à existência de pessoas ricas: aqueles que são capazes de manipular o universo mágico podem controlar um número significativo de zumbis, escravizá-los, fazê-los trabalhar sem trégua, e com isso enriquecer. Os milionários têm zumbis, donos de loja também podem ter zumbis, ou proprietários de terras produtivas: a riqueza de uns está associada ao trabalho dos outros.

Como reconhecê-los? Nosso interlocutor foi claro: quando numa loja, o zumbi é aquele que só trabalha, que não para de trabalhar, que não conversa, que olha para o chão quando inquirido, que apresenta um olhar vazio. O zumbi é aquele absolutamente submisso.

Afinal, quem são os zumbis e qual o seu sentido no moderno Haiti? Estamos diante de uma metáfora forte que diz respeito ao mundo do trabalho: o zumbi é o escravo moderno, e indica que os haitianos estão conscientes que sua revolução ainda não acabou. A luta contra a escravidão e pela liberdade acompanha a todos e a cada um dos haitianos até os dias de hoje. A luta pela independência e contra a escravidão teve início em 1791, e continua até a atualidade.

Omar (“O grande timoneiro”)