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Jean Milus Rocheman e Anil Saint Juste

17 de janeiro de 2010

Cem mil e um mortos no dia 12 de janeiro no Haiti, nunca me esquecerei, nem dos cem mil, nem deste um que se soma ao total.

Antes de ir ao Haiti eu tinha estabelecido contato com Jean Milus Rocheman, jovem militante haitiano que estudou na Escola Nacional Florestan Fernandes, escola de ensino superior do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na cidade de Guararema, interior de SP, próximo a minha cidade, Jacareí.

Rocheman nos visitou duas vezes em Port-au-Prince e em entrevista nos explicou como a fabrica de cimento do Haiti tinha sido privatizada e destruída sistematicamente pelos EUA durante a ocupação estado-unidense. Por este motivo os haitianos pobres que não podiam importar cimento dos EUA construíam suas casas com tijolos de areia.

Impossível esquecer isso no dia do terremoto, vendo aquelas casas desabando como areia

Ele também nos falou sobre o processo de desinvestimento no campo por parte do Estado haitiano, que tornava o Haiti dependente dos EUA em diversos produtos alimentícios, e ocasionava um grande êxodo do campo para a cidade, em construçoes precárias, como vimos em Cite Soleil, que também foi em grande parte destruída durante o terremoto.

Este brilhante jovem haitiano também disse que a Minustah não é uma força de estabilização do Haiti, porque, afinal de contas, como falar em estabilização num país faminto? Como falar em estabilização sem fortalecimento das instituições haitianas? Portanto fica evidente que a Minustah estava no Haiti como força de ocupação, e que não tinha um plano para sair dali, ferindo a soberania do povo haitiano.

No final de sua visita Rocheman nos indicou Anil Saint Juste, professor da Universite d`Etat do Haiti, para falarmos sobre outras questões politicas, que poderia nos passar mais dados sobre a força de ocupação, Minustah.

Ligamos para o professor Anil e marcamos um encontro as 16h do dia 12 de janeiro de 2010. Eu mais dois do nosso grupo estávamos atrasados para o encontro, o trânsito estava caótico. A rua da universidade estava bloqueada, e dois pneus queimavam impedindo o tráfego de carros. Quando descemos do Tap-Tap as 17h, a cidade de Port-au-Prince foi atingida por um terremoto de 7.3 na escala Richter.

Depois descobrimos o possível motivo da manifestação estudantil, o professor Anil, militante engajado ligado aos sindicatos e movimentos sociais haitianos, foi baleado por dois motoqueiros e morreu as 13h naquele mesmo dia, dia do terremoto.

Por conta da manifestação estudantil nos atrasamos para o encontro e não estávamos no interior do prédio da universidade, que ruiu e matou mais de mil estudantes. Por conta da manifestação vários estudantes estavam na rua e se safaram.

Nunca me esquecerei do professor Anil, pesquisarei sua historia, lerei seus livros e teses. Anil Saint Juste, foi mais um morto em Port-au-Prince no dia do terremoto. Mas foi vitima da violência contra os movimentos sociais que cresce cada vez mais. E os outrtos cem mil, vitimas das construçoes de areia, da falta de um Estado forte, falta de um corpo de bombeiros, de hospitais. Me parece que as privatizaçoes e a falta de Estado não são um bom modelo.

Sempre direi, cem mil e um mortos no dia 12 de janeiro.

Até o presente momento não temos notícias de Jean Milus Rocheman. Ele morava num dos bairros mais destruídos pelo terremoto. Aguardamos ansiosamente notícias desse jovem militante haitiano e torcemos para que ele esteja vivo.

Daniel Felipe Quaresma dos Santos