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Pesquisa de campo em antropologia, conflito e pós-conflito: o caso haitiano

21 de novembro de 2009

A proposta da nossa viagem é a realização de um primeiro treinamento em pesquisa de campo antropológica de um grupo de jovens estudantes de ciências sociais. Por que o Haiti? Primeiro país a proclamar a independência em meio um verdadeiro processo revolucionário, desde então o Haiti não deixou de chamar a atenção por sua excepcionalidade. Nos últimos anos, o país foi objeto de mais uma ocupação internacional, ora comandada por tropas que levam a bandeira brasileira. Não foi a primeira ocupação, e a presença das tropas brasileiras deve ser percebida da perspectiva haitiana, como parte de uma longa história marcada pelo assédio e pelo embargo. Nosso compromisso com a compreensão do Haiti implica num treinamento específico em pesquisa de campo em regiões de conflito e pós-conflito.

O treinamento em pesquisa de campo em antropologia implica num trabalho prévio bibliográfico, o qual já vem sendo realizado sistematicamente pela equipe. Clássicos do pensamento social haitiano, como Jean Price-Mars e Anténor Firmin, têm sido objeto de especial atenção, bem como os trabalhos mais recentes de antropólogos e historiadores, também haitianos, como Laënnec Hurbon, Michel-Rolph Trouillot e Leslie Manigat, entre outros. Vimos, assim, priveligiando nesta primeira etapa a própria tradição intelectual haitiana, sem deixarmos de lado clássicos como o de C.L.R. James, fundamental para a compreensão dos proprios fundamentos da nação. Somos conscientes que a história é um dos temas preferidos por parte de todos os haitianos. A fundação do país em meio a guerra com os franceses e contra a escravidão e as dificuldades ulteriores de alcançar o reconhecimento internacional para uma iniciativa política absolutamente inédita conferiram aos haitianos um grande orgulho com relação a sua história e aos seus pais fundadores. E tem sido sobre a história o nosso interesse inicial, de tal forma que, para todos nós, personagens como Déssalines, Pétion ou Toussaint-L’Ouverture, heróis de todos os haitianos, são também nossos heróis.

Mas a pesquisa de campo exige um contato inicial com a língua. No Haiti, uma das línguas oficiais é o francês, idioma conhecido por boa parte da equipe. Somos conscientes, contudo, de que a esmagadora maioria dos haitianos utiliza no seu dia a dia o crioulo haitiano, que vem sendo objeto de especial atenção por parte de todos nós. Se não possuimos ainda um bom conhecimento do crioulo, nosso propósito é estudá-lo a fundo como parte de nosso treinamento em campo.

O trabalho inicial implica ainda numa aproximação à antropologia da guerra e do pós-guerra. Ganham importância etnografias como as de Christian Geffray ou textos de historiadores como Tony Judt: devemos nos distanciar das grandes narrativas, aquelas elaboradas pelas organizações internacionais ou pensadas a partir do Estado ou das instituições para nos dedicarmos ao dia a dia dos indivíduos e as suas interpretações da guerra e do conflito.

Passaremos por Port-au-Prince, capital do país, e onde contamos com os parceiros do Institut Universitáire de Récherche et Dévelopment, e seguiremos para Cap-Haïtien, a capital do norte. A escolha de Cap-Haïtien não foi aleatória. É ao lado desta cidade que encontramos registros mais significativos da história haitiana – a Citadelle e Sans Souci. E é justamente sobre as relações entre a situação contemporânea e uma história profunda de relações conflitantes como o mundo exterior que nos determos inicialmente.

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Equipe

17 de novembro de 2009

Daniel Felipe Quaresma dos Santos

Diego Nespolon Bertazzoli

Joanna Lopes da Hora

Marcos Pedro Magalhães Rosa

Omar Ribeiro Thomaz

Otávio Calegari Jorge

Rodrigo C. Bulamah

Werner Garbers

Cris Bierrenbach