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E o futuro do Haiti?

18 de janeiro de 2010

E politicamente, o que acontecerá ao Haiti? Pode parecer preocupação excessiva pensar isso agora, mas não é… O Palácio e outros órgaos do Governo caíram. Não se têm mais todos os funcionários, os prédios, os equipamentos. O Senado veio abaixo justamente quando estava cheio. Um intelectual haitiano nos disse que tudo do Estado foi destruído e a burguesia (que sabemos, em geral, está por trás dos Estados) também foi.

As Forças Armadas e a Polícia do país não desapareceram “em meio ao caos provocado pelo terremoto”, como disse um repórter digital… As Forças Armadas não sumiram, foram desmanchadas no começo da década de 90, após decisão do presidente na época, Aristide. E a Polícia local é a única força armada que vimos nas ruas nos primeiros dias após o desastre.

As forças que a princípio sumiram aos olhos da população são as estrangeiras, que ocupam o país. Nesse sábado, andando de carro em vias relativamente livres, foi surpreendente ver dezenas de veículos da ONU parados no quartel do Brasil. Será que depois virá a comunidade internacional, resgatar o último sobrevivente, aparecer na mídia e dizer de boca cheia que ajudou o povo haitiano?

O que me assustou não é bem um “despreparo” da Minustah, como disseram por aí, mas a impressão de que há, ou houve, um desfoco, uma falta de prioridade. Os EUA estão há menos de 2h daqui, mas, pelo que vimos, demorou 4 dias para a ONU começar a lançar comida de helicópteros, o que obviamente reflete na afobação parcial da população para receber comida.

Parece que está se constatando publicamente o fracasso da Minustah (que está há 6 anos nesse Haiti) pois, realmente podemos ter dúvida do que ela deixou a esse povo: incentivo à bases, como agricultura e escolas, para o próprio país se reerguer, não foi…E agora, nessa hora emergencial, também tivemos dúvida da presença efetiva dela. Parece-me que a Minustah foi para o Haiti não apenas para oferecer comida, seguranca, etc, mas para inserir no país numa lógica que não essencialmente é a da ajuda, da prevenção e da estabilização. Tudo isso são apenas dúvidas que me farão reparar bem na intensificação do controle social que vai se instaurar e num número alto de mortos que pode existir mesmo depois do Haiti se recuperar. Hoje alguma autoridade já decretou que haverá toque de recolher, às 18h, como se fome tivesse horário pra vir e como se várias pessoas já não estivessem morando na rua.

Para além da ajuda, parece-me que se instaura muito mais fortemente uma lógica do capitalismo internacional, que aliás, é desigual e instável por si só. Quantas empresas e organizações internacionais não ganham muito no Haiti? Quantos dólares a mais elas não ganham ao trabalharem nas “zonas vermelhas” da cidade, consideradas assim pela ONU (mesmo quando são, no quesito violência, lugares comparáveis à diversas regiões do Brasil)? Tal lógica também esta presente em diversas outras “missões de paz”, em ajudas “humanitárias” pós-catástrofes, em políticas econômicas de países ricos em relação à países pobres e em desenvolvimento.

Os EUA estão mandando mais de 5 mil marines (dizem até 10 mil), obviamente muitos deles armados, dizendo que a reconstrução que buscam é a longo prazo… Também já têm o aeroporto em seu controle. Por que não priorizar 5 mil médicos, ou 5 mil litros de diesel, ou 5 mil quilos a mais de comida? Ou então 5 bi de dólares pra pagar uma fração do prejuízo que o fracasso do neoliberalismo, liderado pelos EUA, causou ao Haiti? Ou até para compensar o protecionismo de países desenvolvidos em relação a quem, economicamente, já está de guarda abaixada faz tempo?

Às vezes, penso que tantos mil soldados só podem vir pra cá para caçar, quem sabe grupos locais (os quais, onde não há presença do Estado, são naturalmente o poder existente). Pra quem quiser ajudar o Haiti, será que exise algo mais importante com que se gastar esses recursos do que investir na soberania alimentar, no combate à sede, à falta de moradia, etc, as quais já afetavam a esmagadora maioria da população antes do desastre? Desastre natural, aliás, que se agrava, na verdade, por conta de um desastre precedente, o social.

Num momento em que minha experiência no Haiti me mostrou que a natureza de muitas ocupações, “ajudas” e relações internacinais não me agradam, não posso estar otimista com o futuro politico do Haiti, apesar de acreditar muito no povo haitiano. Fico ainda mais preocupado sabendo que quem esta liderando tal movimentação é obviamente os EUA, o qual nas últimas décadas foi uma das “potências” que pressionaram infinitos países e exerceram muito dessa forma, eu diria, autoritária e doentia de se relacionar com o outro. Como disse Omar, qualquer valor monetário dado agora ao Haiti “humanitariamente” é pouco, e é, na verdade, o pagamento mínimo de uma dívida, que, ainda por cima, estão pagando de forma errada. E o Brasil parece não ter aprendido a lição que sofreu na própria pele: hoje é um dos protagonistas da intensifcação desses princípios perversos e que geram desigualdade. Aliás, já anunciou que ficará por aqui mais 5 anos.

Apoio-me nas palavras de um dominicano, que comentou algo como: “Disseram que o terremoto foi um castigo para o povo haitiano. Foi, na verdade, um castigo para aqueles que passaram séculos tratando-os com indiferença”. Pior, por mais que muitos haitianos gostem ainda hoje do Brasil (até porque quando qualquer um dá um prato de comida a alguém faminto não é muito dificil ganhar o mínimo da simpatia deste) não posso dizer que nós, brasileiros, não somos parte dessa patota de pessoas que devem ser responsabilizadas pelo que acontece no Haiti.

Werner Garbers

88 comentários

  1. Infelizmente é uma sistemática que nunca muda… É o maior exemplo de que todos vivenciamos um sistema que, apesar de bater na tecla da igualdade social, é na verdade um sistema de elites dependentes dessa desigualdade para manter-se em pé… Logo as mídias de massa já não citarão mais sobre este acontecimento e apenas será mais um fato para dar audiência na Retrospectiva de 2010 no fim do ano… Mas a esperança é o que move o ser-humano. Parabéns pelo trabalho que todos vocês vem realizando.


  2. Gostei muito da reflexão desse texto. Depois do terremoto uma das primeiras coisas que me passou pela cabeça foi isso, como vai se dar a reconstrução desse país? Sem uma base produtiva, sem governo, sem hospitais, sem escolas. Sem certas condições básicas fica dificil pensar num processo que priorize os interesses do povo haitiano.
    Na mídia já vemos o FMI vendo o acontecimento como oportunidade de ‘emprestar’ (e endividar) mais um país latino americano.


  3. Para aprofundar o debate, acho oportunas as reflexões e denúncias contidas no texto “A militarização da ajuda de emergência ao Haiti: trata-se de ajuda humanitária ou invasão?”

    In: http://www.resistir.info/chossudovsky/haiti_15jan10.html

    Avani


  4. Legal! obrigado a dica…
    Werner


  5. Werner , lendo o texto em muitos momentos me vi no Brasil e não no Haiti. A grandeza do caus é infinitamente diferente , mas em muitos momentos vi projetos sociais aqui no Brasil agindo semelhantemente.
    Que bom ter o relato de voces !


  6. “E o Brasil parece não ter aprendido a lição que sofreu na própria pele: hoje é um dos protagonistas da intensifcação desses princípios perversos e que geram desigualdade no Haiti. Aliás, já anunciou que ficará por aqui mais 5 anos”. É difícil de entender/aceitar que isso vem acontecendo a partir do atual governo que, durante anos antes de ser eleito, lutava contra toda forma de imperialismo. E sabemos que isso não é feito sob a alcunha de vingança, mas que deveras se tornou uma prioridade política desse país que cresce economicamente cometendo os mesmos “pecados” que outrora países mais fortes cometeram em favor da manutenção de nosso ciclo de pobreza.


  7. Fico aqui lendo e pensando se todo o trabalho científico desenvolvido pelos professores, graduandos, mestres e doutores dessa primorosa Universidade é feito com essa visão oblíqua, catanha e míope, que vem sendo desenvolvida pelo Prof. Omar e seus discípulos no blog.

    Uma pesquisa de quarteirão! (“Ao sair do nosso abrigo pude ver”…)

    Numa cidade com dois milhões de habitantes, o quê representa um quarteirão?

    É o metodologia da burguesia intectual.
    Ao chegar ao Brasil reuniremos amigos tomaremos um uísque e vamos contar sobre essa aventura.

    Santo Deus é possível que até vire um artigo científico!!!!!

    Eu estive duas vezes no Haiti,em um período de guerra, com tiroteios na ruas e mortes nas calçadas, e num segundo momento de reconstrução. Conheci o trabalho das ongs e da ONU através da força de paz nas áreas de desnutrição infantil, geração de empregos e recuperação do meio ambiente.

    Estive , por exemplo com a embaixatriz, ela está descalça, de roupas sujas, dando de comer, banho, e limpando a remela de nariz e a bunda de bebês haitianos.

    Essa foi a embaixatriz que eu vi.

    Rodei quilômetros e mais quilometros em Porto Principe, belair, cité soleil, cozinha do inferno, e outros tantos infernos existentes no Haiti.

    Não fiquei só em volta do meu umbigo.

    Mas estamos num estado democrático, onde cada um fala o que quer, pensa e vê.

    Mas nem sempre corresponde aos fatos.


    • Que bom que neste caso podemos ter varias versões e tirar nossas próprias conclusões. Na maioria dos casos não temos esse privilegio.


    • Ola Giacomo!
      (nao tenho acentos nesse teclado)
      Como estamos num espaco de discussao interessante gostaria de esclarecer e perguntar algumas coisas…

      Primeiro q, nao sei onde leu isso no meu texto, mas nao ficamos apenas em nosso quarteirao…Estavamos no centro da cidade na hora do terremoto, e nos seguintes dias, em algum momento todos do grupo ou da ONG viva rio tinha q sair…Haitianos nos ajudaram em busca de comida, agua, diesel etce naturalmente nos informavam do q viam (e tentamos relatar)…Alguns de nos rodaram a cidade por 2, outros por 4 horas, e nessas andancas fomos ouvir a populacao, entao nossa rede de contatos era maior do q diz..EStavamos numa casa a umas 10 quadras do centro,fomos ate ao centro (e alguns dos mesmos corpos de tres dias antes estavam la), fomos ate Petion Ville, outros ate perto de bel air, entre outros lugares…Por fim de carro rodamo boa parte da cidade e passamos em frente ao batalhao, q e(acento) mais perto do aeroporto…

      Qto a chamar isso aqui de artigo cientifico quem ta chamando assim e (acento) vc, eu chamo isso de blog e espaco de troca…Revistas cientificas geralmente nao tem espaco para perguntas, respostas, etc…Alias conte me com mais detalhes como veio, qdo, o q acha do pais, com quem,etc…realmente fiquei curioso…

      Qto aos aspectos positivos da Minustah estar aqui , como vc disse desnutrição infantil, geração de empregos e recuperação do meio ambiente, nao deu tempo de ver a fundo como td isso tem se dado, ate (acento) nossa pesquisa foi interrompida…Mas isso td pode estar Tambem dentro de ma logica capitalista (muitos bancos por ai dizem q fazem td isso, porem um dos q causam gde concentracao de renda e causaram consequentemente mta destruicao da natureza sao eles…)
      Pelo q vimos houve nos anos de ocupacao do Haiti alguma ajuda, claro, mas a questoa q levanto no texto e (acento) de q tem logicas e outros interesses, q, qq um q se interesse por economia mundial supoe… (caso nao acredite q o desastre social, a pobreza, do haiti tem raizes nos paises ricos pode falar, isso e (acento) um espaco de troca)…Eu acredito q sim e q podemos fazer algo ai do Brasil, pensando as nossas politicas, para nao reproduzir tal logica….
      Qto a ser bom ou ruim a Minustah aqui, uma das minhas constatacoes, e (acento) de que a situacao e (complexa) e de que esse pais tao peculiar, com um Estado q ja desde mto antes do desastre natural era mto diferente da nossa concepcao de Estado
      agora sofrera uma maior imposicao de pressoes q ele nao escolheu mas sim tera como consequencia de uma dita ajuda (q como disse, e (acento)o pagamento de uma divida)…Creio q se quisermos ajudar esse pais temos q ir na logica q esta na Economia Internacional e mudar a ela, e nao apenas ficar fazendo ciclos viciosos de ajuda…Se rompermos certos ciclos essa populacao por conta propria vai ser reerguer…Isso sim acho q do Brasil podemos e devemos fazer…

      Concordo q a embaixatriz pode fazer td isso, tomara q faca, mas o q estavamos falando foi particularmente da postura dela conosco, e isso ficou dito…
      Alias, eu tenho tomado alguns cuidados com as palavras justamente para ser bem lido. Tenho acatado a sugestoes de quem ao menos le e fala sobre o texto…

      Abracos a todos

      Werner


      • “… se quisermos ajudar esse pais temos q ir na logica q esta na Economia Internacional e mudar a ela…” (sic)

        Parabéns. Primeiro vocês “desvendaram” a lógica da “Economia Internacional”. Esperamos então que o nobel de economia desse ano venha para o Brasil. Quanto mudá-la, boa sorte !


      • Dan , por que acessa esse blog ? não entendo, se não tem nada haver com suas idéias……… vc não é obrigado acessá-lo , existe outros sites : Globo , Folha de São Paulo , Estadão ,


      • O que o Haiti precisa não é de uma embaixatriz descalça, limpando a bunda de bebês. Há tanto tempo o Haiti precisa de ajuda de fato. Todos sabemos. Foi preciso a natureza mostrar a sua ira para que todos os povos pudessem enxergar seus irmãos passando fome vivendo de forma indigna, comendo biscoitos de barro… Eu pergunto: O faz tanta gente ajudando o Haiti há tanto tempo? Hoje a União Europeia afirmou doar mais de 400 milhões de Euros! Maravilha… Atitudes, descência, amor, dignidade, respeito e algúem realmente cuidando de 8 milhões de haitianos que pelo visto nem governo tem.


      • Por que a embaixada brasileira deveria priorizar diante do caos absoluto, um grupo de estudantes em trabalho de pesquisa , que não teve a casa atingida, que pelo menos de acordo com os relatos tinha água, comida e moradia?”

        O grupo pelo que nos consta, não quis e nem desejou prioridade. Não pediu nada. Apenas ouviu a embaixatriz, apenas….

        O que se discute é: A Elite do Haiti morreu… por ordem da Natureza… O que será do povo que ficou? Não da terra, mas do povo que anseia por um governo, por uma ordem.
        Aquelas crianças nada entendem de economia, governo etc. Entendem de amor, segurança, braços generosos, alimento… estão cansadas de dor, de fome…


      • Dan.
        Isso é algum Segredo por acaso? Que o Capitalismo Global utiliza mão de obra barata para aumentar o lucro e que a propriedade é mais valorizada que as pessoas?
        Dá pra mudar sim. Começe por vc, pois é exponencial.


      • Resumindo Werner, vc é um bosta!


  8. Realmente… A análise marxista de vocês é tão superficial e ingênua quanto aos piores folhetins de direita… Se vocês representam uma boa amostra das ciências sociais no Brasil, estamos perdidos mesmo.


    • “Marxista” aonde? E o melhor, por que?

      Rotular gratuitamente só porque não concorda. Se você representa o leitor médio brasileiro, estamos perdidos mesmo.


    • Não tenho procuração para falar em nome da embaixatriz brasileira, e nem pretendo aqui fazê-lo. Todavia me surpreende essa indignação de cientistas socias, que estavam em campo conhecendo uma realidade dura.

      Mas cabem aqui algumas perguntas!
      Quando vocês foram para o Haiti procuraram informações na Embaixada brasileira ?

      Quando vocês chegaram no Haiti, estiveram na embaixada brasileira, para falar sobre a presença de uma Universidade Pública em solo estrangeiro ?

      Bom creio que não.
      E mesmo que tenha sido sim. Aí vai um questionamento

      Por que a embaixada brasileira deveria priorizar diante do caos absoluto, um grupo de estudantes em trabalho de pesquisa , que não teve a casa atingida, que pelo menos de acordo com os relatos tinha água, comida e moradia?

      Então era melhor deixar de lado milhares de feridos, milhares de crianças com fome, milhares de grávidas parindo nas ruas, milhares de pessoas soterradas para salvar os estudantes?

      Senhores, que microcosmo é esse?

      Ainda me estarrece, a expressão “lógica capitalista”.

      Não! lógica capitalista, que discurso é esse, da década de sessenta, setenta….

      É lógica capitalista injetar dinheiro num projeto de reciclagem de lixo?

      É lógica capitalista investir num programa que impede que os “les restes avec” deixem de ser tratados como escravos e tenham comida e sejam tratados como gente?

      É lógica capitalista gastar dinheiro com fuzis para impedir que mulheres sejam estupradas cotidianamente?

      É lógica capitalista apoiar projetos, que dependem de dinheiro, como do Viva Rio ?

      Então meu amigo Wener, Viva a lógica capitalista.


      • Caramba, Giácomo, quanto sarcasmo!?!
        vc é parente da tal embaixatriz?
        eu li muitos textos, aqui, principalmente, os relativos a embaixatriz, realmente a tal embaixatriz não agrada aos gregos, mas parece agradar aos troianos…

        ninguém pediu prioridade de atendimento, pediu atendimento, me parece que a questão, foi o estarrecimento dos pesquisadores com a explicação agressiva com que a embaixatriz foi até eles, explicar pq não ajudaria, releia o texto, releia, talvez possa entender melhor…

        agora, sim, pode ser verdade, pode ser mentira tudo o que os caras escreveram aqui, mas parece que você decidiu para vc que é MENTIRA e ponto final, agora é mandar ver no sarcasmo em cimas dos “caras”…
        o legal de tudo é que os “caras” deixam aberto mesmo, todos podem falar o que quiser, vc pode falar o que quiser, e eu posso replicar, muito bom, isto é dialogicidade…se não hána Minustah, no governo brasileiro, haitiano ou estadunidense, fato é que há aqui, neste espaço.

        Para completar, não sou parente, nunca nem ouvi falar desses “caras” da Unicamp, e também não sou inimiga da embaixatriz, também nunca tinha ouvido falar dela antes…

        Mas, estou gostando deste espaço aberto, onde tantas cabeças diversas e oponentes, competitivas, afinadas ou desafinadas, com a mesma causa, sem causa ou causa oposta podem TROCAR IDÉIAS, mas ainda precisamos saber trocar com mais amorosidade, sem tanta agressividade, né…
        abraços, adelante.
        Alexandra


      • céus. está muito claro em todos os textos e respostas a comentários dos autores do blog que eles NÃO estavam pedindo PRIORIDADE alguma frente a essa tragédia, e sim solicitando orientações sobre 1) caso continuassem no haiti, como poderiam ajudar; 2) caso houvesse possibilidade de retornar ao brasil, como poderiam fazê-lo.

        o problema aqui parece ser essa classificação dicotômica que a maioria insiste em utilizar: bons X maus; esquerda x direita; dominados x dominantes; pobre x rico. novidade: existe muita coisa nos interstícios dessas categorias estanques.


      • Giacomo Clemente.
        Ela vai receber a recompensa pelo bem e pelo mal que fez, em algum momento da vida ou póstuma como todos nós, e diferentes de 100 mil e um mortos ela tem a opção de melhorar seja o que for.
        É um momento de reflexão e ela é atacada como símbolo da parte ruim que inegavelmente representa, pois não a conhecemos pessoalmente como vc quer transparecer.


    • Dan.
      Que salada vc fez.. Misturou Análise Marxista com Folhetim de Direita.. e salpicou com Ciências Sociais…
      Sei que este Blog é perturbador, mas vc precisa de um descanso cara, sai do pc e vai respirar um pouco de vida lá fora.. vc tem essa opção.


  9. Boa tarde, sou repórter do jornal Correio Popular e gostaria de uma entrevista com voces sobre a experiência vivida no Haiti. Quando voces voltam para Campinas? se concordarem em dar a entrevista e puderem me contatar, meu telefone é (19) 3772.8071. podem ligar a cobrar. se preferirem contato por email, tudo bem tb.
    fico no aguardo
    grata pela atenção
    Delma


  10. precisa de dinheiro pra ter o melhor sistema de saúde do mundo? CUBA provou que não.

    UTOPIA UTOPIA UTOPIA …verdade UTOPIA ….mas e dai, viveremos em função das reais necessidades ou em função do dinheiro,…

    vale isso aqui no Brasil, vale isso no Haiti…

    o que seria a busca pela real felicidade inves da superficial??

    não estou falndo que é fácil mudar, mas vale a pena pensar em coisas novas, ou velhas, mas simples e inteligente…


  11. eu quis dizer melhorar o sistema de saude de um Pais…

    é o contraste…sistema de saude do EUA(baseado no dinheiro) VS sistem de saude de Cuba


  12. e digo mais…

    Cuba nunca precisou de muito dinheiro pra ganhar muito mais(mas muito mais) medalhas na Olimpiadas do que o Brasil… não que isso seja principal, das necessidades, mas indica que a visão centralizada no dinheiro vai aleijando toda uma populaçao.


    • Agora, tenho certeza que era tudo puro saracasmo.


  13. Sabem de uma coisa? Os meninos da Unicamp definiram direitinho o conceito e finalidade de blog: um espaço de discussão que não é permitido nem pela revista científica, nem pela imprensa, nem por ninguém. Os blogs são uma conquista do espaço democrático dentro das redes. Por isso são perigosos e não é à toa que a direita tenta acabar com eles.Esse blog está ficando cada vez mais interessante.


    • “Por que a embaixada brasileira deveria priorizar diante do caos absoluto, um grupo de estudantes em trabalho de pesquisa , que não teve a casa atingida, que pelo menos de acordo com os relatos tinha água, comida e moradia?”

      O grupo pelo que nos consta, não quis e nem desejou prioridade. Não pediu nada. Apenas ouviu a embaixatriz, apenas….

      O que se discute é: A Elite do Haiti morreu… por ordem da Natureza… O que será do povo que ficou? Não da terra, mas do povo que anseia por um governo, por uma ordem.
      Aquelas crianças nada entendem de economia, governo etc. Entendem de amor, segurança, braços generosos, alimento… estão cansadas de dor, de fome…


  14. Caros,
    Meu nome é Rodrigo Turrer, sou repórter da Revista Época. Estou fazendo uma reportagem sobre a “reconstrução do Haiti”, algo que parece distante diante desta catástrofe, mas que gostaríamos de abordar pelo prisma das inúmeras dificuldades nesta reconstrução.
    Gostaria de conversar com algum de vocês, que conhecem de modo tão próximo o país e suas agruras, sobre esta reconstrução.
    Imagino que as telecomunicações por aí estejam com problema, não sei se é possível fazer por telefone.
    Mas vocês poderiam me passar algum contato (telefone ou e-mail?)

    Grato pela atenção,
    Rodrigo Turrer
    (11) 8358-6877
    (11) 3767-7336
    rturrer@edglobo.com.br
    rodrigo.turrer@gmail.com


  15. Concordo com você com uma ressalva. Não é só a direita que tenta acabar com ele, a esquerda, inclusive, já foi muito melhor sucedida nesse quesito.


    • Dan , por que acessa esse blog ? não entendo, se não tem nada haver com suas idéias……… vc não é obrigado acessá-lo , existe outros sites : Globo , Folha de São Paulo , Estadão ,


      • Prezado Eduardo,

        Eu acesso outros sites que você mencionou (fora o Globo, que é perda total de tempo), apesar de achar uma droga e não concordar com as análises deles. Não vejo porque não acessaria esse…

        Sei que a maioria dos estudantes da Unicamp aí no Haiti, tem boas intenções. Assim como a maioria dos missionários religosos, ou de ONGs, e quem sabe até as Nações Unidas e o Exército Brasileiro. Mas só mesmo um povo que perdeu toda a dignidade, como o do Haiti, pra tolerar tanta babaquice feita em nome de “ajudá-los”.


    • Como podemos ajuda-los Dan?
      Podemos começar em 2010, ano de eleições do Brasil. Seu voto é uma ferramenta que lhe dá toda atenção do mundo diante de um candidato nesse único momento mágico (antes das eleições).
      A Net intensifica esse poder, massificando sua mente e idéias.
      Eu não posso votar em um candidato que tenha formação militar como o Nelsom Jobim, nem Tucano nem Democrata, Nem da bancada Ruralista. Eles não liguem nem para os pobres Brasileiros, que dirá Haitianos.
      Não apresentam bons frutos, e graças a net sabemos disso, é impossível fingir.


      • PS: Nesse ano eleitoral de 2010 é fácil ver os frutos dos políticos e aspirantes. Fiquemos de olho!! Devemos isso a nós, aos haitianos e ao mundo.


      • no mesmo post vc se contradiz a respeito da Net. Eu sei que é assim mesmo, a realidade é contraditória. Sei que você é um religioso maniqueísta, o bem contra o mal, os oprimidos contra os opressores… Mas como você pode mesmo perceber, através da sua contradição, a realidade é muito mais complicada que seu preto e branco. Aliás, esse é o grande problema do Blog. Só porque contem opiniões conflitantes com a tal opinião “oficial”, logo ela deve ser mais correta. Isso é coisa de adolescente, sinceramente.


  16. Eles deixaram mais do que claro o que queriam ao relatar o episodio da embaixatriz:

    “Nao queremos dar um destaque desnecessario ao que afetou um pequeno grupo de estudantes e um professor da Unicamp em meio a tragedia haitiana. No entanto, acreditamos ser importante revelar a atuacao de quem, naquele momento, dizia responder pela embaixada. Nao se trata de fofoca de blog, como disse o assessor Joao Leme, mas do relato de um grupo de 9 pessoas que tinha recebido a orientacao de se dirigir a embaixada e que foi surpreendido por uma reacao indigna de alguem que ocupa uma posicao tao importante num momento como este.”

    Construir um argumento baseado apenas naquilo que você escolheu ler, é no minimo deprimente. Se eles fossem um bando de burguesinhos preocupados com seus umbigos, nunca nem teriam ido ao Haiti.


  17. Olá,

    Meu nome é Ana, trabalho na TV Brasil, gostei muito dos textos e queria entrar em contato com vocês. Podem me mandar algum endereço de e-mail ou msn?

    Abs,


  18. Bem, como sempre a mesma conversa marxista de sempre.
    “Eu acho que o Brasil falhou muito seriamente, todo o mundo desenvolvido falhou seriamente, porque não conseguiram conter o terremoto no Haiti”.

    Balela.

    Foi uma desgraça, um acidente natural sem proporções. Destruiu tudo.

    Agora vamos culpar a boa vontade do Brasil? Ver interesses na intervenção americana?

    Pára! Vai ajudar o povo, vai socorrer gente na rua, vai trabalhar nas tropas de paz.

    Tem gente que a vida é reclamar, reclamar, reclamar.
    Ou lidera “revolução das massas” e muda o planeta, ou pede pra cagar e sai. Simples.

    Regards,

    Cassius


  19. Em tempo, nunca vou entender porque quando você critica um blog de “esquerda” você é taxado de “direita” e vice-versa. Ah, sim, tanto a dialética marxista quanto o positivismo só prevém que existem dois lados de uma “verdade”…


    • Isso vindo de alguém que rotula posicionamento de esquerda como automaticamente sendo marxista é de uma ironia gigantesca.


    • Quem é Marx? Esqueça isso! Blog de esquerda? Blog de direita?
      Esse é o tipo de ódio que estamos tentando evitar com todo o diálogo. Nós decidimos tomar a pílula vermelha cara.
      Não fomente mais brigas, já tem muita destruição e morte no ar destre blog, estamos construindo algo aqui.


    • Diante de suas palavras difícil é não expressar meu pensamento: Dan, vc é “dã” da cabeça, cara!
      Seus posts me fazem refletir sobre a necessidade de ler esse blog diariamente, por uma única razão: se ele incomoda tanto vc (q pensa de uma maneira diferente deles) é porque os caras estão no caminho certo e incomodando da forma correta, através da reflexão dos fatos e da história.


  20. Werner, parabéns pela sua reflexão! Obviamente que ela vai incomodar muitos, o que sempre é de se esperar. Nestes momentos é interessante como o debate político digno é deixado de lado em nome das provocações mesquinhas e raivosas. Sinal de tempos sombrios, como diria H. Arendt. Mas é isso… acredito que o trabalho que vocês desenvolveram foi de fundamental importância. Foi uma importante alternativa para o conhecimento dos fatos acorridos. saudaçoes


  21. Werner, compartilho de suas preocupações com o futuro do haiti. Gostei muito do texto, ainda mais por sinalizar para o papel imperialista que o brasil vem cumprindo ultimamente…
    Beijos a todos. Não vejo a hora de encontra-los.


  22. Também compartilho das preocupações com a presença brasileira no Haiti inclusive.nossa elite costuma ser racista e prepotente, imagine num país como este, cuja dependencia de outras potencias é patente.Temos tam bém muitos problemas internos a serem resolvidos e qe necessitam de investimentos, oingresso no grupo selete da ONU não vai resolvê-los, e a presença no Haiti é mero oportunismo politico para tal ingresso.


    • uma opinião digna de um neo-con… parabéns.


      • Dan.
        Tenho um livro ótimo para indicar pra vc: “Diário de um SkinHead”. É ótimo para aprender e diferença entre compromisso e paixão de excessos e violência. Tudo entre os humanos é muito tênue.


  23. Uma terra onde nada se planta… Como falar de alimento? As ONGs fazem o quê há tanto tempo?
    Limpam a bunda de bebês? Ensinam a cantar e dançar?
    E a questão da fome? Qual é o interesse real que desconhecemos?

    Debulhar o trigo

    Recolher cada bago do trigo
    Forjar no trigo o milagre do pão e se fartar de pão
    Decepar a cana
    Recolher a garapa da cana
    Roubar da cana a doçura do mel , se lambuzar de mel
    Afagar a terra
    Conhecer os desejos da terra
    Cio da terra a propícia estação e fecundar o chão
    Debulhar o trigo
    Recolher cada bago do trigo
    Forjar no trigo o milagre do pão e se fartar de pão
    Decepar a cana
    Recolher a garapa da cana
    Roubar da cana a doçura do mel , se lambuzar de mel
    Afagar a terra
    Conhecer os desejos da terra
    Cio da terra a propícia estação e fecundar o chão


  24. Adorei a participação neste Blog, melhor ainda os debates. Apenas estava olhando o seu lado. Sou de RI da UFRJ faço projeto de extensão na ONU e percebi o quão é desnecessário e inútil o trabalho que se faz. Apenas para gerar conhecimento e prestígio para a academia e para a instituição ONU. Legal conhecer vários lugares, culturas e especificidades de conhecimentos jamais adquiridos. Participar de debates, entender o lado dos jornalistas e dos diplomatas, assim como dos acadêmicos. Às vezes me pego pensando em que lógica eu trabalho e para quê. Ainda bem que acabou o projeto. Diferentemente dos outros estudante vivi diversas realidades na pele do que estudo e as análises que faço acabam sendo pela própria experiência de vida sem se prender no meu próprio microcosmo. As análises feita neste Blog foram particulares e reais, fora da tendência midiática direcionada. Parecia que eu estava conversando com amigos, me contando a realidade e interpretando-a. Boas interpretações e más também, assim como as minhas. Participar de um Blog é sim um golpe no direcionamento democrático, a famosa e conhecida “Democradura”.
    Portanto incentivo as meus colegas as discursões assim como na exposição de visões. Se o povo haitiano tivesse ainda(não sei se tem) acesso a internet e Blog, as melhores fontes de pesquisas e imparciais da realidade seriam por eles contadas e aqui debateríamos, leríamos e proporíamos. Os cânticos tão expostos, o cheiro, estariam muito mais próximos de nós do que imaginaríamos sem ter nenhum “capetalista” ou “comunistas comedor de criancinhas” direcionando o que se deve dizer ou não, segundo tal ideologia, segundo tal teoria, segundo tal teórico. No Blog nós dizemos o que queremos e pronto!

    Saudações


    • é issi aí Alabê!

      abs


  25. Olá Cláudio Reis!

    Excelente comentário. Trata-se de uma reflexão, que incomoda muitos indivíduos mesquinhos e vazios.

    Nesses relatos percebemos que apesar de tanta pobreza, trata-se de povo muito solidário, guerreiro e de extrema coragem.
    Sobre aquela Embaixatriz é lamentável um ser se portar dessa maneira. Realmente pensamos: “ Como um País pode ter como representante alguém que age com esse descaso. Ela não sabe o papel que uma embaixada deve exercer em qualquer lugar do mundo. O que o Haiti pode esperar de embaixador e embaixatriz que atuam desta maneira?

    Meninos da Unicamp,
    Acho que extrema valia tudo o que está sendo discutido e relatado nesse blog , pois da mídia não podemos esperar tamanhas informações e aprendizados, somente o sensacionalismo barato que elas transmitem.
    Esse trecho do texto do Daniel Felipe Quaresma dos Santos é surpreendente. “Rocheman nos visitou duas vezes em Port-au-Prince e em entrevista nos explicou como a fábrica de cimento do Haiti tinha sido privatizada e destruída sistematicamente pelos EUA durante a ocupação estado-unidense. Por este motivo os haitianos pobres que não podiam importar cimento dos EUA construíam suas casas com tijolos de areia.”
    “Impossível esquecer isso no dia do terremoto, vendo aquelas casas desabando como areia” Lendo esse texto não há dúvidas de que é preciso sim ir na lógica inserida na Economia Internacional e mudá-la urgentemente. Realmente os EUA pressionaram infinitos países e exerceram muito dessa forma autoritária e doentia de se relacionar com o outro.


  26. Tenho admirado muito a reflexão que vocês têm feito em relação a participação dos EUA na história do Haiti, em contrapartida a postura atual do Brasil em relação ao futuro do país. Inclusive, fiquei até preocupada sobre uma notícia que ouvi há uns três dias atrás aqui, que o governo brasileiro iria enviar além da ajuda, armas não letais para “conter a violência”, fiquei pesnsando: que poder prepotente tem o Brasil sobre tais ordens? Fico imaginando os papéis trocados, as inversões de valores que o Brasil está se prestando a passar. Papel de polícia, se a missão é de paz? Fico preocupada no que isso pode gerar, quem sabe dominação? Aí me lembra outro país, ou uma potencia. Que piada! Que vergonha! O povo haitiano precisando de água, comida, casa, nem conseguiu enterrar seus entes queridos. Cadê a prioridade? E as pessoas que sobreviveram e estão feridas? Estou muito envergonhada. Pensar no futuro político, econômico, social do Haiti e na cidadania dos haitianos é mero detalhe para quem só pensa no poder.
    Abraços a todos, e muita força.


    • A lista de Crimes de Guerra dos EUA, como o de qualquer império é imensa. Acho que é impossível listar uma ação criminosa desde Marcos Garvey que não tenha influência ou ação direta com os EUA.
      Mas não é hora de demonizar o EUA, Agora eles tem suas próprias Metástases para canibaliza-los. E todo paciente Terminal acertar suas contas quando aprendem a contar os próprios dias..


      • Escatologico, você, não ? (no sentido apocalíptico). Sinceramente, sua leitura de cabeceira deve ser o livro do Apocalipse.


  27. Olá Cláudio Reis!

    Excelente comentário. Trata-se de uma reflexão, que incomoda muitos indivíduos mesquinhos e vazios.

    Nesses relatos percebemos que apesar de tanta pobreza, trata-se de povo muito solidário, guerreiro e de extrema coragem.
    Sobre aquela Embaixatriz é lamentável um ser se portar dessa maneira. Realmente pensamos: “ Como um País pode ter como representante alguém que age com esse descaso. Ela não sabe o papel que uma embaixada deve exercer em qualquer lugar do mundo. O que o Haiti pode esperar de embaixador e embaixatriz que atuam desta maneira?

    Meninos da Unicamp,
    Acho que extrema valia tudo o que está sendo discutido e relatado nesse blog , pois da mídia não podemos esperar tamanhas informações e aprendizados, somente o sensacionalismo barato que elas transmitem.
    Esse trecho do texto do Daniel Felipe Quaresma dos Santos é surpreendente. “Rocheman nos visitou duas vezes em Port-au-Prince e em entrevista nos explicou como a fábrica de cimento do Haiti tinha sido privatizada e destruída sistematicamente pelos EUA durante a ocupação estado-unidense. Por este motivo os haitianos pobres que não podiam importar cimento dos EUA construíam suas casas com tijolos de areia.”
    “Impossível esquecer isso no dia do terremoto, vendo aquelas casas desabando como areia” Lendo esse texto não há dúvidas de que é preciso sim ir na lógica inserida na Economia Internacional e mudá-la urgentemente. Realmente o papel autoritário e doentio dos EUA é deprimente!


  28. Olá Cláudio Reis!

    Excelente comentário. Trata-se de uma reflexão, que incomoda muitos indivíduos mesquinhos e vazios.

    Nesses relatos percebemos que apesar de tanta pobreza, trata-se de povo muito solidário, guerreiro e de extrema coragem.
    Sobre aquela Embaixatriz é lamentável um ser se portar dessa maneira. Realmente pensamos: “ Como um País pode ter como representante alguém que age com esse descaso?. Ela não sabe o papel que uma embaixada deve exercer em qualquer lugar do mundo.” O que o Haiti pode esperar de embaixador e embaixatriz que atuam desta maneira?

    Meninos da Unicamp,
    Acho que extrema valia tudo o que está sendo discutido e relatado nesse blog , pois da mídia não podemos esperar tamanhas informações e aprendizados, somente o sensacionalismo barato que elas transmitem.
    Esse trecho do texto do Daniel Felipe Quaresma dos Santos é surpreendente. “Rocheman nos visitou duas vezes em Port-au-Prince e em entrevista nos explicou como a fábrica de cimento do Haiti tinha sido privatizada e destruída sistematicamente pelos EUA durante a ocupação estado-unidense. Por este motivo os haitianos pobres que não podiam importar cimento dos EUA construíam suas casas com tijolos de areia.”
    “Impossível esquecer isso no dia do terremoto, vendo aquelas casas desabando como areia” Lendo esse texto não há dúvidas de que é preciso sim ir na lógica inserida na Economia Internacional e mudá-la urgentemente. Realmente o papel autoritário e doentio dos EUA é deprimente!


  29. Por que os olhos do mundo só se voltam para o Haiti em tempos de tragédias e/ou de guerras civis, conflitos ?
    Faz-se mister o olhar permanente , histórico, sobre o país, que, com certeza, deve o “nobre status” de país mais pobre das Américas graças à herança colonial francesa/européia, da mesma forma que os novos conflitos étnico-raciais-tribais na África também o são.
    toda a ajuda o mundo “civilizado”, rico ou emergente, entre eles o Brasil que se quer liderança mundial e se esquece de seu apartheid social interno, é muito pouco ainda, pois , na verdade, penso que são as metrópoles que têm uma dívida enorme com as ex-colÔnias, pois as riquezas do centro são ao custo das mazelas da periferia mundial.


  30. Quem era minimamente informado já sabia da situação miserável do Haiti. Essa tragédia é um coup-de-grace numa situação insustentável. Fico a imaginar como era a atuação brasileira lá antes desse acidente: a minustah contendo rebeliões e guerras de gangues ,guardando instituições, ajudando em algumas ações comunitárias e sociais,construindo alguns equipamentos, presenciando uma realidade tão dura que alguns oficiais passaram por depressão e stress. Um trabalho sem fim e em ultima instância ineficaz.
    E uma embaixada com certas atividades destoantes da que se espera frente ao caos social, (segundo informações que estão na rede sobre festeiros e festas da diplomacia e perfil de algumas pessoas que estão à frente da representação brasileira). Sem um plano minimamente viável e digno p/ o Haiti feito principalmente por haitianos é impossível torná-lo país. Se planejar uma cidade é tarefa que envolve tantas variáveis e profissionais, imagino um país… Profissionais sérios de diversas áreas que possam se juntar nessa tarefa o Brasil tem muitos, a questão é que isso não é do interesse da “globalização”.
    Que tipo de atuação deveria ter uma representação diplomática brasileira num lugar assim? a mesma que em Paris? ou o assistencialismo paternalista ultrapassado e piegas da benemerência que faz visitas e campanhas que “ajudam” os pobres, os orfanatos e asilos?
    Parece que lá pouco sobrou, fora o espírito e a cultura do povo. O que vai se organizar e edificar agora com os alardeados milhões da ajuda internacional será diferente?
    Obrigado pelo blog!


    • No fundo, você está querendo o mesmo que os piores conservadores neo-conservadores. Só com uma retórica um pouco diferente. Lamentável a que ponto chegou a esquerda no mundo (ou seja, no mesmo lugar da direita)


      • Certo, Dan.
        Desito de pedir uma opinião construtiva. Então vou tentar criar alguma a partir das suas.
        Vc mostra que a opinião Corrente que a Tita e outros exprimem é morna.
        A humanidade precisa então de um novo discurso? Uma meta? o que seria diferente apra um mundo globalizado, onde as velhas esquerda e direita são uma só e mesmo assim não se entendem?
        Parece que é isso que vc quer expressar, a pergunta é boa.. Qual o próximo passo para a humanidade?


  31. Cada dia mais eu me entristeço com o que é publicado aqui.
    Antes, pela situação do povo, que já sofreu tanto em sua história e que sofreu um tremendo golpe nesse começo de ano. Depois, pela forma como as informações são apresentadas e as discussões são dirigidas, especialmente neste espaço de comentários.
    Já trabalhei com cooperação internacional (admito, nunca com Estados falidos), e sei que não é nem de um jeito, nem de outro. Que tanto os posts como os comentários (tanto os classificados como direita quanto os que se poderia dizer que são esquerda) dão a nítida impressão de um exagero desesperado…

    Pra mim, fica apenas uma pergunta, dirigida àqueles que estão no conforto de seus lares,observando a tragédia de longe, pelo viés midiático que quiser(isso não importa mais): por que, ao invés de vcs ficarem discutindo, no pior sentido da discussão, que é a não construtiva, mantendo-se cada um no seu quadrado ideológico, “fechado com cerca elétrica”, em que o pensamento diferente é absolutamente inaceitável, não vão procurar uma maneira de ajudar?

    Existem algumas análises interessantes nesse link abaixo:
    http://aidwatchers.com/2010/01/nobody-wants-your-old-shoes-how-not-to-help-in-haiti/


    • Tem razão, desculpe.


  32. É impressionante como notícias divergentes em relação ao que ouvimos na mídia aqui no Brasil afetam e até “ofendem” algumas pessoas… Interessante tb como as pessoas conseguem ler o que querem e não o que está escrito…
    Quem conhece pessoas que atuam no Haiti sabe que o que está sendo relatado neste blog é verdade! Ainda que se tenha tentado ajudar o país, a exploração do país é vergonhosa.
    E vamos deixar essa discussão ultrapassada de direita/esquerda; o que se está relatando e discutindo aqui vai muito além de ideais políticos, caducos ou não.
    Também concordo que o tom do debate aqui deveria ser mais cortês e respeitoso, como tem sido a postura dos pesquisadores da Unicamp, demonstrando respeito e solidariedade com o povo haitiano.
    Muito obrigada, colegas da Unicamp, que estão nos mostrando uma outra face do que acontece no Haiti, sem sensacionalismo.
    Abs,
    Leonor.


  33. Nota no Blog do Luis Nassif:

    “O Haiti e a rapaziada da Unicamp
    Por Rui Daher

    Primeiro, foi um post aqui sobre um suposto comportamento esdrúxulo da embaixatriz brasileira no Haiti, contestado por comentaristas que a conhecem. Ontem, um artigo na “Folha” criticando a postura da ONU, EUA e, inclusive, da missão brasileira, mesmo antes do terremoto. Hoje, em uma entrevista à Eldorado FM, suas vozes neófitas jogavam séculos de mazelas haitianas em nossas costas. O próximo passo, provavelmente, a Globo News.

    Os dois rapazes da Unicamp, um antropólogo e outro estudante de Ciências Sociais, confrontados pelas imagens que temos acompanhado pela mídia, sobretudo TV, me parecem aproveitar o fato da presença nos momento e local da tragédia para buscarem algum tipo de notoriedade. Pra quê, não sei. Tá esquisito, meus caros.”

    Tinha de ser lá.


    • Ruinzinho esse post do tal Rui Deher… Grande liberdade de expressão da internet. Cada um fala o que quer, sobre o que não sabe, e sempre tem um idiota (me incluo) que lê e ainda repercute.


    • Concordo. post do Rui esquisito.
      Neste ponto segundo ele o haiti inteiro deveria virar barata, junto com os pesquisadores e acostumar-se com os “séculos de mazela” de sua espécie.. não podesse clamar por basta? Isso é querer notoriedade, ou aproveitar a inegável notoriedade para algo útil?


      • Fossem os posts da “rapaziada” da Unicamp mais inteligentes, não haveria tanto neo-con caindo em cima.
        Infelizmente, a “rapaziada” é ingênua, por serem novos (estudantes de graduação, pela informação que circula na mídia). Como já disse, não questiono a “boa-fé” da “rapaziada”, só a ingenuidade “pouco inteligente” para ser politicamente correto, como querem alguns aqui no blog.

        Parabéns, vocês queimaram seus nomes, o do IFCH, agora não importa que for escrito aqui, é aquela “coisa de filhinho de papai comunista”… Conseguiram tudo que queriam, portanto. Ser esculachados pela mídia oficial, e virar heróis do gueto “mobilizado”… Isso sem dúvida, vai ajudar MUITO o Haiti.


  34. Que reflexão brilhante!
    Os tempos são difíceis, os homens são maus, cada um preocupado unicamente com o seu próprio bem estar… enquanto não amarmos o próximo como a nós mesmos, tudo continuará de mal a pior.
    Trabalho lindo de vocês, que Deus continue abençoando e capacitando.
    Abraços
    Ivy


  35. Caros pesquisadores e comentaristas,

    O problema nos relatos, a partir do evento cataclismo ocorrido, do meu ponto de vista, foi a defesa apaixonada de uma posição ideológica extremamente forte: a de que há uma opção não explícita de dominação, por parte de países ditos desenvolvidos, à população haitiana. .

    Os pesquisadores, no calor dos acontecimentos, me parece, abandonaram todos os ensinamentos antropológicos e deixaram aflorar toda a sua indignação à situação reinante no país em que estavam a estudar fatos e fenômenos sociais.

    Lembro aqui R. Cardoso de Oliveira, que diz que no âmbito de uma pesquisa participante “o antropólogo não podia abdicar de um exercício hermenêutico que conjugasse a dimensão analítica de seu empreendimento (aquela que enfatiza o distanciamento, a observação e a objetividade) com a dimensão auto-reflexiva (que não perde de vista a idéia de pertencimento ou de participação, assim como as pressuposições culturais do pesquisador)”, o fazer antropológico, isto é, a indissociabilidade entre pesquisa empírica e reflexão.

    Empíricamente estavam vivenciando a situação caótica que se abateu sobre o país mas, reflexivamente, apenas reproduziam suas próprias impressões sobre o ocorrido, sem crítica, ou, melhor, com uma crítica contudente de premissas já aceitas como verdadeiras, não reflexiva. Esqueceram o nativo e passaram a ser, eles mesmos, o nativo.

    Como é sabido por qualquer pesquisador sério em antropologia, as práticas, situações e/ou contextos sociais estudados pelo antropólogo só se tornam inteligíveis à luz das representações dos nativos. Essa dimensão reflexiva é que senti falta nos relatos. Sei que o espaço não é acadêmico, não é revista acadêmica, nem coisas do gênero. Mas ao assumirem a identidade de pesquisadores em ciências sociais, da UNICAMP, e de uma ONG reconhecida, vocês se tornaram, de alguma forma, intérpretes idôneos da situação, contudo, o resultado foi desastroso. Não pelas descrições dos eventos, mas mais pelo posicionamento inequívoco que tomaram, com um discurso nitidamente anti-capitalista, anti-imperialistas, e outros antis de plantão… esqueceram-se do “olhar antropológico”, esqueceram-se do “fazer antropológico” para abraçar “a causa”.

    R. Cardoso de Oliveira diz: “[…] a importância atribuída pelos antropólogos ao ‘ponto de vista nativo’, assim como a preocupação em desvendar a ‘lógica interna do sistema’ (nativo), constituem noções/orientações básicas amplamente compartilhadas na comunidade de pesquisadores.”

    Um abraço,


    • Olá Hades, com licensa, você conclamou uma fala de autoridade sobre a conduta do antropólogo em relação à “verdade” dos nativos, e que supostamente os nossos pesquisadores no Haiti não lançaram mão suficientemente dos pressupostos filosóficos e metodológicos da disciplina para relatar os fatos vivenciados, preferindo se posicionarem, digamos, politicamente à esquerda. Bem, tendo a discordar, pois essa perspectiva que enuncias é “uma” entre outras, sendo que a hermenêutica antropológica não é um atestado de salvoconduto para a verdade dos fatos e compreensão da tal “lógica interna”. É a hermenêutica hoje o que fora o relativismo cultural outrora: estratégias de construção de assepsias científicas, mais que necessariamente uma condição de se fazer ciência. Não acredito num fazer antropológico sem um posicionamento assumido. Antes ele estar à mostra e ancorar-se na força argumentativa e no sentido do que é relatado, que se prender (e se perder) em análises de conjunturas e perspectivas heteróclitas. Quanto mais em se tratando de um evento crítico como o que eles se viram imersos. Colegas da Unicamp, sigam em frente, não há óbice nenhum em se posicionarem, sobretudo se este posicionamento coadunar com suas verdades interiores (do ponto de vista ético)e com o clamor por compreensão que emana do Haiti. Li o artigo que saiu na Folha e ele está irrepreensível, inclusive do ponto de vista antropológico.


  36. Ei, ei, ei, pessoal vamos manerar nos comentários… A que isso leva? Dan, que amargor é esse? Giacomo, que niilismo! será que o pessoal, os estudantes “filhinhos de papai comunista queriam realmente esta notoriedade”? Notoriedade quer o cônsul haitiano que vê sob algum ponto de vista positivo — a sua maneira de branco colonizador — o que aconteceu, pois talvez considere mais plausível A ONU e os Eua intervirem mesmo e “civilizarem” aqueles “pretos fetichistas” de uma vez por todas com ajudinha básica da natureza. Notoriedade querem os Estados diretamente envolvidos, encabeçando uma disputa velada de quem tem mais poder operacional para promover a “ajuda humanitária”, ajuda essa da qual os soldados chegam primeiro e em maior número que os mantimentos… Olha, qualquer perspectiva que olharmos, discutirmos e amealharmos informações sobre o Haiti não só ajudará o Haiti, mas aprimorará nossa própria humanidade, pois uma catástrofe como esta mexe com todos os lugares comuns de nossa existência, desde a alienação ao engajamento, psassando pela solidariedade até o torpor. E isso, acreditem, faz as coisas moverem até do ponto de vista político, que é confeti nessa situação. Pessoal da Unicamp, ainda bem, para nós, que vocês estão aí ganhando esta notoriedade forçada…


  37. […] Pesquisadores da Unicamp no Haiti, Grupo de pesquisadores da Unicamp, sobre o tema Haiti, no […]


  38. Isso tudo descrevido em todos os relatos, e mais outro tanto de informacao que tenho pesquisado me levam a creer que esse terremoto foi “manmade” (feito/provocado pelo homem).
    Consideremos isso.
    Tecnologia e interesse para isso existem de sobra (mesmo que nao nos atentemos).

    Fiquemos em paz.
    Amemos e respeitemos


    • acho que foi na realidade, produto de um ataque de uma outra civilização espacial, que quer impedir os fetichistas terráqueos alcancem sua emancipação…

      É, agora sim, chegamos no fundo do poço.


  39. Meu Deus… imaginamos tudo o que existe nos bastidores da política. A corrupção, o interesse, a ganância… Mas um terremomoto “”manmade” !?!!

    Bem, de qualquer maneira, ainda faço parte daqueles que como essa “rapaziada” ainda carrega a esperança, a fé no homem bom e ainda acredita num mundo melhor e em bons políticos.
    Aqueles que julgam o problema deles como sem importância ou por questão de notoriedade e que dizem que eles não poderiam ter dito a verdade, ou que estão “queimados”… sinto muito. Vocês perderam a essência, a sensibilidade.


    • Pelo menos não perdi a sensatez. Realmente, prefiro economizar nos ataques às autoridades e à mídia que pode me dar voz, e exibir 1% do que gostaria de dizer para 100 milhões de pessoas, do que falar 100% da “verdade dos oprimidos” para (sendo otimista) 10 mil pessoas no blog.


  40. Bom dia colegas,

    Tenho lido este blog e acompanhado os trabalhos de vocês no Haiti. Desejo muito boa sorte e agradeço pelo compartilhar de experiências.

    Envio abaixo dois links para textos que li hoje sobre a questão:

    Os pecados do Haiti, de Eduardo Galeano
    http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?alterarHomeAtual=1

    O Brasil deve defender a democracia no Haiti, FSP, Tendências e Debates
    http://www.joildo.net/artigos/o-brasil-deve-defender-a-democracia-no-haiti/

    Abraços,


  41. Ah Dan vc me dá pena….Tenta de todas as formas levar o debate para outro rumo…

    Bom,se esses estudantes almejassem notoriedade teriam respondido a todos os jornalistas que tentaram e tentam entrar em contato com eles…mas isso não foi feito, e quanto a serem “filhinhos de papai” é um julgamento inútil, que acredito sinceramente não ser verdade, já que “filhinhos de papai”, nas férias de fim de ano, não vão para o Haiti e sim esquiar em algum lugar da Europa…


  42. http://news.blog.lemonde.fr/2010/01/20/haiti-et-ses-amis-venezuelien-et-cubain/#more-138

    “Pour Hugo Chavez, les Etats-Unis sont responsables du séisme”

    HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA !!!!!


  43. Tão parecida com a história brasileira…
    Os pecados do Haiti

    Publicado em 15 de Janeiro de 2010 por Eduardo Galeano
    (tradução livre de Antonio Folquito Verona)

    A democracia haitiana nasceu há muito pouco. No seu breve
    tempo de vida, esta criatura faminta e enferma não recebeu nada, além
    de bofetadas. Estava ainda recém nascida, nos dias de festa de 1991,
    quando foi assassinada pela quartelada do general Raul Cedras. Três
    anos mais tarde, ressuscitou. Depois de terem colocado e retirado
    tantos ditadores militares, os Estados Unidos pegaram e impuseram o
    presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro
    governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que
    havia tido a louca aspiração de querer um país menos injusto.

    O voto e o veto
    Para apagar as nódoas da participação norte-americana na
    ditadura carniceira do general Cedras, os infantes de marinha levaram
    160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado.
    Deram-lhe permissão para retomar o governo, mas o proibiram exercer o
    poder. Seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos,
    porém mais poder que Préval tem qualquer burocrata de quarta categoria
    do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não
    o tenha sequer eleito com um voto apenas.

    Mais que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez
    que Préval, ou algum de seus ministros, pede créditos internacionais
    para dar pão aos famintos, instrução aos analfabetos o terra aos
    camponeses, não recebe resposta, ou o contradizem ordenando-lhe: –
    Faça a lição! E como o governo haitiano nunca aprende que deve
    desmantelar os poucos serviços públicos que ainda permanecem, últimos
    pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os
    professores acabam sempre por reprová-lo.

    O álibi demográfico
    No final do ano passado quatro deputados alemães visitaram
    o Haiti. Assim que chegaram, a miséria do povo os atingiu
    frontalmente. Então o embaixador de Alemanha lhes explicou, em Porto
    Príncipe, qual é o problema: – Este é um país demasiadamente povoado –
    disse-. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

    E riu. Os deputados se calaram. Essa noite, um deles,
    Winfried Wolf, consultou as cifras. E comprovou que o Haiti é, com El
    Salvador, o país mais superpovoado das Américas, tanto quanto a
    Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilometro
    quadrado. Em sua passagem pelo Haiti, o deputado Wolf não apenas foi
    atingido pela miséria: também ficou deslumbrado pela capacidade de
    expressar a beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que
    o Haiti está superpovoado… de artistas.
    Na realidade, o álibi demográfico é mais o menos recente. Até a alguns
    anos, as potências ocidentais falaram bem mais claro.

    A tradição racista
    Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o
    país até 1934. Retiraram-se quando alcançaram seus dois objetivos:
    cobrar as dívidas do City Bank e revogar o artigo constitucional que
    proibia a venda de terras aos estrangeiros. Robert Lansing, então
    secretário de Estado, justificou a prolongada e feroz ocupação militar
    explicando que a raça negra é incapaz de se governar por si mesma, que
    possui “uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade
    física de civilização”. Uno dos responsáveis pela invasão, William
    Philips, havia elaborado anteriormente a sagaz idéia: “Esse é um povo
    inferior, incapaz de conservar a civilização que tinham deixado os
    franceses”.

    O Haiti havia sido a pérola da corona, a colônia mais rica
    da França: uma grande plantação de açúcar, com força de trabalho
    escrava. No espírito das leis, Montesquieu o havia explicado sem
    travas na língua: “O açúcar seria demasiado caro se não trabalhassem
    os escravos para sua produção. Esses escravos são negros desde os pés
    até a cabeça e têm o nariz tão esmagado que é quase impossível ter
    deles alguma pena. Resulta impensável que Deus, que é um ser muito
    sábio, tenha posto uma alma e sobretudo uma alma boa num corpo
    inteiramente negro”.

    Em troca, Deus havia colocado um chicote na mão do feitor.
    Os escravos não se distinguiam por sua vontade de trabalho. Os negros
    eram escravos por natureza e vadios também por natureza; e a natureza,
    cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir ao
    amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrasse o menor
    entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo,
    contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão
    científica: “Vagabundo, desocupado, negligente, indolente e de
    costumes dissolutos”. Mais generosamente, outro contemporâneo, David
    Hume, havia comprovado que o negro “pode desenvolver certas
    habilidades humanas, como o papagaio que fala algumas palavras”.

    A humilhação imperdoável
    Em 1803, os negros do Haiti ocasionaram uma tremenda
    derrota às tropas de Napoleão Bonaparte e Europa não perdoou jamais
    essa humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país
    livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes sua
    própria independência, porém conservava ainda meio milhão de escravos
    trabalhando nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era
    senhor de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também
    dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

    A bandeira dos livres se içou sobre as ruínas. A terra
    haitiana havia sido devastada pele monocultura do açúcar e arrasada
    pelas calamidades da guerra contra a França. Uma terça parte da
    população havia caído em combate. Então, começou o bloqueio. A nação
    recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava dela, ninguém
    lhe vendia, ninguém a reconhecia.

    O delito da dignidade
    Nem mesmo Simão Bolívar, que soube ser tão valente, teve a
    coragem de assinar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar
    poderia ter reiniciado sua luta pela independência americana, quando
    já havia derrotado a Espanha, graças ao apoio do Haiti. O governo
    haitiano lhe havia entregado sete navios, muitas armas e soldados, com
    a única condição que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que ao
    Libertador não lhe passava pela cabeça. Bolívar cumpriu com esse
    compromisso, porém depois de sua vitória, quando já governava a Grande
    Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvado. E quando convocou
    as nações americanas para a reunião do Panamá, não convidou o Haiti,
    mas sim a Inglaterra.

    Os Estados Unidos reconheceram o Haiti depois de sessenta
    anos do final da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um
    gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são
    primitivos porque possuem pouca distância entre o umbigo e o pênis.
    Naquele instante, o Haiti já estava nas mãos de carniceiras ditaduras
    militares, que destinavam os famélicos recursos do país para pagar a
    dívida com ex-metrópole: a Europa havia imposto ao Haiti a obrigação
    de pagar à Francia una indenização gigantesca, como modo de ver-se
    perdoado por ter cometido o delito da dignidade.

    A história do assédio contra o Haiti, que em nossos dias
    tem dimensões de tragédia, é também una história do racismo na
    civilização ocidental.

    URL do artigo : http://www.cubadeba te.cu/opinion/ 2010/01/15/
    los-pecados- de-haiti/

    Ou será que mente também Galeano, assim como os universitários?


  44. Não mente. Só distorce a tal “realidade”. Como TODOS nós fazemos quando apresentamos qualquer fato, e claro, quando lemos ou recebemos uma informação. Isso é o que todos deveriam ter em mente, quando escrevem e quando lêem.

    Primeiro, e o principal, usa um monte de citações racistas, tendo em vista você simpatizar com a causa haitiana (qualquer que ela seja). Acho esse recurso abominável e racista também.

    No mais, o texto comete vários julgamentos estúpidos e parciais: Nunca houve democracia no Haiti, por isso ela nunca pode ter nascido; Simon Bolivar “não teve coragem” ou não teve interesse em reconhecer a independência do Haiti ? Além disso, omite o fato de que quem armou a revolução haitiana foram os americanos e ingleses, a quem interessava a derrota de Napoleão. Além do mais, dizer que eles “venceram” a guerra, é como dizer que o Afeganistão derrotou a URSS e o Vietnã, os Estados Unidos… Que vitória hein ? Só se for moral.


    • Dan, seria interessante vc dizer para nós a fonte de onde tirou informações importantíssimas que vc tem, como a de que os americanos e os ingleses armaram a Rev Haitiana, contra Napoleão…

      abs


  45. […] Mas há motivos para intranquilidade entre a população haitiana, pois falta água e comida. A ONU demorou quatro dias para começar a distribuir alimentos por helicóptero, apesar do Haiti estar a duas horas de voo […]


  46. O futuro do Haiti é um não-futuro. Aristide tentou algo pelo país, e por isso foi destronado. E eis que vem um terremoto avassalador.


  47. Iteressante. Assisti a palestra do Otavio Caligari no Instituo federal de Juiz de Fora. Muito bom. Parabens pela mobilização.


  48. coitados desse povo


  49. coitado desse povo



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