
Rapa em Pétion-Ville
10 de janeiro de 2010A fiscalização da prefeitura contra o comércio de rua não é exclusividade da 25 de março. Aqui no Haiti também existe. Nas proximidades da praça Saint-Pierre, em Pétion-Ville, alguns integrantes do nosso grupo comiam “chenn jambe”, quando nossa comida saiu correndo desordenadamente no meio de uma confusão generalizada. Logo atrás vinha uma pick-up da prefeitura da cidade, rodeada de fiscais, e um carro de oficiais da polícia atrás, armados com fuzis.
Não pensamos duas vezes pra correr atrás da confusão e ver o que se passava. A pik-up parou e uma dezena de fiscais começaram a se atracar com vendedores, recolhiam a mercadoria e subiam novamente na pick-up. Como tínhamos camêras na mão, a população dizia “filmez yo, filmez yo!” (filmem eles).
Depois da filmagem fomos interpelados pelo carro de oficiais da polícia, que em inglês faziam perguntas de quem éramos e o que fazíamos ali. As fitas não foram confiscadas, e estão disponíveis em http://www.youtube.com/watch?v=9mpoxs_gn2c
A grande questão desse evento é que praticamente só existe comércio de rua no Haiti, não existem lojas, e os trabalhos formais são raros. Então a venda informal de mercadorias na rua faz parte da sobrevivência de uma grande parte do povo haitiano. Não temos estatísticas oficiais, mas intelectuais afirmam que a esmagadora maioria do povo vive do trabalho informal, em grande parte de vendas nas ruas.
Sendo assim, a ação repressiva da prefeitura de Pétion-Ville não é contra alguns trabalhadores, mas sim contra a maioria dos trabalhadores, em favorecimento de alguns pequenos comércios formais no centro dessa cidade. Ou seja, a polícia não vai acabar com o comércio informal confiscando mercadorias. Nesse sentido, a escolha do que apreender, e o que fazer com isso, é critério subjetivo e dos interesses de alguns policiais da Polícia Nacional do Haiti.
Daniel F. Q. Santos
Tem sido fantástico “acompanhá-los” nessa viagem. A cada texto lido, uma nova espera do próximo (assim como uma novela, talvez. No entanto, acredito que apesar de ser baseado em relatos pessoais, possui bastantes critérios). É interessante os apontamentos sobre o reflexo histórico que vocês colocam, não o deixem de fazê-lo; torna motivante a nossa pesquisa para tentar “entender” um migalha do que vocês conseguem vivenciar por ae. Grande Beijo.